sábado, 6 de julho de 2013

Solução permacultural




Mais um: quando falamos em sustentabilidade, estamos falando de ações que respeitam o equilíbrio dos ecossistemas (que já são, por si só, sistemas naturais auto-sustentáveis), a diversidade cultural e a justiça social. Neste quesito, a Permacultura pode dar uma grande contribuição.
O termo quer dizer cultura permanente e foi criado pelos australianos Bill Molinson e David Holmgren na década de 70, como uma alternativa aos padrões insustentáveis de exploração dos recursos naturais, uma resposta ao sistema industrial agrícola convencional, poluidor das águas, dos solos e do ar (Morrow, s/a, p. 9).
A Permacultura se baseia no conhecimento de várias tradições culturais no trato com a terra (principalmente), respeitando sempre os ciclos naturais e a interação entre os seres vivos, mas também incorporando novas tecnologias, mormente no que diz respeito à geração de energia.
Trata-se de um método completamente sistêmico e suas aplicações se estendem desde o simples tratamento da água até a construção de ecovilas. A bioarquitetura, o design estético e harmônico, os padrões de interconexão, são características da Permacultura. Nas palavras do próprio Bill Molinson, é uma filosofia e uma abordagem de uso da terra que inclui estudos dos microclimas, plantas anuais e perenes, animais, solos, manejo da água e as necessidades humanas em uma teia organizada de comunidades produtivas (Morrow, s/a, p. 9).
A ética da Permacultura irá se basear, dessa forma: 1) no cuidado com a terra, 2) no cuidado com as pessoas, 3) na distribuição dos excedentes e 4) na redução do consumo. Fica claro por esses quatro itens que a Permacultura em nada se aproxima do atual modelo econômico.
Os princípios permaculturais são os seguintes: 1) preservar a diversidade genética, 2) respeitar o direito à vida de todas as espécies e 3) utilizar espécies e habitats de forma sustentável. Manter o fluxo natural das coisas é também uma atitude obrigatória. Para se ter uma idéia sobre esse quesito, vejamos o que nos diz Rosemary Morrow:
Todas as formas de vida necessitam de energia para desempenhar suas atividades. A fonte primária de energia é a luz do sol. As plantas capturam a energia da luz e a transformam em energia química: carboidratos, açúcares, proteínas, ceras e óleos, que por sua vez são consumidas pelos animais. Desde os herbívoros, que comem sementes, folhas ou frutos, até a bactéria no interior de uma minhoca, a energia se movimenta através do sistema e é dissipada em forma de calor. Pela produção de plantas, seja em um design de horta ou de floresta, você realiza um fluxo de energia. A energia flui desde as plantas através de todos os organismos no seu sistema. Se você levar toda a grama cortada e as folhas secas para o lixo, está jogando fora a energia do sistema. No entanto, se fizer um composto de todos os detritos do jardim você manterá o fluxo natural. (s/a, p. 15)
Diz Fritjof Capra (1982, p. 224) que executar um trabalho que precisa sempre ser refeito nos ajuda a reconhecer os ciclos naturais de crescimento e declínio, de nascimento e morte, adquirindo cada vez mais consciência da ordem dinâmica do universo. Cuidar de uma horta, de um jardim ou de um pomar, limpar a casa ou fazer a higiene diária do corpo são atividades que nos ajudam a compreender melhor a dinâmica da vida.
Capra propõe ainda alguns pontos importantes para uma alimentação saudável e veremos que a Permacultura, tranquilamente, abrange esses pontos. Diz o físico que:
Para ser saudável e nutritiva nossa dieta alimentar deve ser bem balanceada, pobre em proteína animal e rica em carboidratos naturais, não-refinados. Isso pode ser conseguido se nos apoiarmos em três alimentos básicos: cereais integrais, legumes e frutas. Ainda mais importantes que a composição detalhada da nossa dieta são os três requisitos seguintes: nossos alimentos devem ser naturais, consistindo em alimentos orgânicos em seu estado natural e inalterado; devem ser integrais, completos e não refinados ou enriquecidos. Devem ser isentos de venenos, isto é, cultivados organicamente, sem resíduos químicos venenosos ou aditivos tóxicos. Esses requisitos dietéticos são extremamente simples e, no entanto, é quase impossível atender a eles no mundo de hoje. (Capra, 1982, p. 224)
Os permacultures têm a consciência de que o solo se assemelha a um organismo, pois é um sistema vivo e precisa estar em equilíbrio dinâmico para ser saudável. A perturbação desse equilíbrio ocasiona pragas, ervas daninhas e empobrecimento orgânico do solo: é a doença. Isso é muito comum de ocorrer em monoculturas. Já a policultura, da qual a Permacultura se serve, garante o bom funcionamento orgânico da terra.
A indústria conseguiu fazer com que os agricultores acreditassem que sem pesticidas, adubos químicos, irrigação artificial e outras parafernálias substitutas dos meios naturais de homeostasia, a agricultura não seria produtiva. Persuadiram ainda os agricultores de que seria muito mais lucrativo a produção de campos imensos de uma única cultura. Ledo engano! São práticas como essas as que mais perturbam o fluxo natural da energia, afetando invariavelmente o alimento produzido.
Com a Permacultura, os alimentos podem ser produzidos em regime de policultura, manutenção do ecossistema natural e dos grandes ciclos ecológicos, gerando saúde para quem os come. São alimentos naturais, integrais e isentos de venenos. Não são necessários pesticidas ou fertilizantes químicos.
Que a Permacultura traz uma contribuição expressiva para os problemas emergentes no mundo, isso é fato. Porém, há muito mais do que se aprender com a Permacultura do que se pode depreender da síntese expressa nos parágrafos acima, inclusive no que diz respeito à geração e consumo de energia. E já adianto que a consciência permacultural, embora possa ser desenvolvida com estudos e vivências, começa com o levantar de manhã cedo e arrumar a própria cama.

Rogério Ribeiro Cardoso


http://omnesomniaomnino.wordpress.com/2012/06/18/permacultura-e-sustentabilidade/

 


 
 
Bibliografia
ALVES, Rubem. A Escola Com Que Sempre Sonhei Sem Imaginar Que Pudesse Existir. 5ª ed., Campinas-SP: Papirus, 2003.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação, a ciência, a sociedade e a cultura emergente. Tradução de Newton Roberval Eichemberg, São Paulo: Cultrix, 1982.
LEGAN, Lucia. A Escola Sustentável: eco-alfabetizando pelo ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Pirinópolis-GO: IPEC, 2004.
MORROW, Rosemary. Permacultura Passo a Passo. Tradução de André Luis Jaeger Soares, Pirinópolis-GO: IPEC, s/a.
A CARNE É FRACA. Instituto Nina Rosa, 2005. 1 DVD (54 min), son., color.
 


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