Existem diversas fontes de energia e tecnologias compatíveis com sua produção, mas as fontes mais comuns em nosso país são a petroquímica e a hidrelétrica.
Muitos são os que não se dão conta do que há por trás do simples ato de acender uma lâmpada. Acredita-se apenas que se está pagando por um serviço cujo produto é o único fator em jogo. Paga-se a energia, ela passa a ser de usufruto do consumidor e pronto. No entanto, por trás desse ato tão simples e cotidiano, há toda uma indústria centralizada que trabalha em função de oscilações do mercado.
No Brasil, a maior parte da energia elétrica é produzida por usinas hidrelétricas. A construção de uma usina dessa categoria exige o desvio do curso de um rio e o alagamento de uma vasta área para a construção de uma represa. Um processo que pode necessitar do desalojamento de uma população local inteira e do desmatamento da área, o que causa, inevitavelmente, variações no microclima da região e distúrbios no ecossistema local. Além disso, o peso da água represada provoca a compressão do solo logo abaixo e pode ainda provocar pequenos movimentos em placas tectônicas (no Brasil, que está praticamente no centro de uma dessas placas, o efeito parece ser desconsiderável).
A geração da energia elétrica nessas usinas consiste na liberação de parte da água represada que, atraída pela força gravitacional, atravessa as turbinas em alta velocidade, fazendo girar as pás dos rotores dos geradores propriamente ditos.
Outra forma de geração tradicional da energia elétrica emprega combustíveis fósseis. O refinamento do petróleo, além de produzir combustíveis para automóveis, aviões e geradores de energia a óleo diesel, também produz combustível para as termoelétricas. Essas podem se utilizar também de outros tipos de combustíveis fósseis, como o gás natural e o carvão mineral. Em todo caso, o processo de geração de energia consiste na queima do combustível em imensas caldeiras, nas quais a água é fervida e o vapor, movendo-se rapidamente por uma tubulação própria, movimenta os rotores dos geradores, similarmente às usinas hidrelétricas.
Está claro que a queima desses combustíveis lança na atmosfera vários gases tóxicos e partículas poluentes, alguns contribuintes para o efeito estufa, outros para a diminuição da radiação solar que chega a terra (o caso da fuligem). Não podemos deixar de perceber ainda que o carbono agora jogado na atmosfera estava por milhões de anos isolado do meio-ambiente, o que nos leva à óbvia conclusão de que o planeta dificilmente o absorverá em pouco tempo, fazendo-o retornar ao ciclo natural. Além disso, os combustíveis fósseis não são recursos renováveis. Mas quanto mais se quer crescer, mais energia é necessária…
Uma das soluções encontradas para se escapar da possibilidade de escassez dos combustíveis fósseis (e sua conseqüente poluição atmosférica) e do impacto ambiental causado pelas hidrelétricas é a energia nuclear. Entretanto, embora o impacto inicial causado pela construção de uma usina nuclear seja bem menor que no caso das hidrelétricas, as conseqüências para o meio ambiente devido ao lixo gerado nessas usinas podem ser desastrosas. Um reator nuclear funciona como uma bomba atômica controlada, ele aquece a água de uma caldeira exatamente como uma termoelétrica, mas os resíduos consistem em lixo radioativo, que deve ser mantido isolado do meio ambiente por milhares de anos.
O renomado físico e ambientalista austríaco, Fritjof Capra, salienta com muita propriedade que ao procurarmos soluções tecnológicas para todos os problemas, limitamo-nos usualmente a transferi-los de um ponto para outro no ecossistema global, e, com muita freqüência, os efeitos colaterais da “solução” são mais perniciosos do que o problema original (1982, p. 210).
Existem outras formas alternativas, seguras, limpas e altamente sustentáveis de produção de energia elétrica, tais como a energia solar (embora nem tão sustentável se considerarmos o lixo tóxico das baterias, mas que pode ser aprimorada), a eólica (dos ventos) e a maremotriz (das ondas do mar). A questão é que essas formas de obtenção de energia podem (e devem) ser descentralizadas, o que choca de frente com os interesses político-econômicos da minoria detentora do poder financeiro.
O hábito de evitar as questões sociais na teoria econômica está intimamente relacionado com a impressionante incapacidade dos economistas de adotarem uma perspectiva ecológica. O debate entre ecologistas e economistas já se desenrola há duas décadas [Capra fala do final da década de 70. Atualmente, poderíamos acrescentar pelo menos 25 anos a essas duas décadas mencionadas], e vem mostrando claramente que o pensamento econômico contemporâneo é substancial e inerentemente antiecológico. Os economistas desprezam a interdependência social e ecológica e tratam todos os bens igualmente, sem considerar as inúmeras formas como esses bens se relacionam com o resto do mundo – quer sejam fabricados pelo homem ou naturais, renováveis ou não, e assim por diante. Dez dólares de carvão são iguais a dez dólares de pão, de transporte, sapatos ou educação. O único critério para determinar o valor relativo desses bens e serviços é o seu valor no mercado monetário: todos os valores são reduzidos ao critério único de produção de lucro privado. (Capra, 1982, p. 216).
Um dos maiores problemas da produção de energia, como se vê, é a centralização, que poderia ser resolvido com a adoção da energia solar, abundante, de graça, renovável, limpa, descentralizada etc. Alternativas, de fato não faltam, mas vontade política…
Esses são pontos vitais de nosso padrão de vida que poucas pessoas de fato prestam atenção. Mas se a escola pode alargar a visão de sua comunidade educacional, então é seu o papel de promover o debate.
Esse mesmo problema de centralização ocorre com a produção de alimentos.
Rogério Ribeiro Cardoso
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