Algumas crianças chegam a acreditar que os alimentos vêm das prateleiras dos supermercados; que a água vem da torneira e a energia elétrica, da tomada; que as roupas vêm das lojas e a gasolina, do posto. De fato, poucas pessoas (adultas mesmo!) se dão conta de todo o processo produtivo que vai da plantação do algodão ao ato de se olhar no espelho experimentando uma camiseta nova. A vida, para elas, é algo trivial.
Entretanto, a despeito do desconhecimento de muitos, tudo tem uma história própria, tudo se relaciona de alguma forma, e só é possível perceber essas relações partindo de uma visão sistêmica da vida. Cabe ao processo educativo e mais particularmente à escola, o desenvolvimento ou o despertar dessa visão sistêmica.
É que o ato de educar para a cidadania somente existe de fato quando se educa pela cidadania. E embora esse não seja o tema central desse projeto, essa é uma questão profundamente ética que envolve valores humanos dos quais a escola não pode se furtar.
Numa concepção essencial, a ética se imiscui com valores morais e princípios orientadores da conduta humana, levando inevitavelmente a um profundo respeito pela vida. E entendemos vida não apenas do ponto de vista humano, mas levando em consideração toda e qualquer forma de vida, desde uma bactéria ou uma planta ao maior dos mamíferos ou ao mais inteligente dos gênios. A ética, portanto, não faz distinção de formas de vida para sua aplicabilidade.
Desse modo, ser ético é o primeiro passo para a cidadania.
Levantamos nessas poucas linhas dois conceitos que deverão nortear todo esse texto, quais sejam: ética e vida. A conduta ética perante a vida (em toda a sua magnitude) deve ainda se pautar num terceiro conceito, dentro do contexto que intentamos visualizar: ecologia. De forma simples e direta, a ecologia estuda as relações entre os seres vivos e seu meio ambiente, relações essas que não têm sido respeitadas por vultosa parcela dos habitantes desse planeta nos últimos séculos.
Desde a ascensão do atual modelo econômico capitalista e do modelo produtivo industrial, os recursos naturais têm sido explorados como se fossem ilimitados. Os cientistas sociais, pautados no paradigma mecanicista da vida, numa visão completamente reducionista e fragmentada, forjaram um modelo econômico de acordo com o qual o “crescimento” (seja ele econômico ou tecnológico) é a meta a ser alcançada, algo tido como essencial à manutenção da qualidade de vida humana. Se algo é bom, pensam, quanto mais desse algo houver, melhor. Entretanto, a expansão ilimitada é obviamente impossível num ambiente finito, o que torna todo o sistema insustentável.
De um modo geral, os economistas não reconhecem que a economia é meramente um dos aspectos de todo um contexto ecológico e social: um sistema vivo composto de seres humanos em contínua interação e com seus recursos naturais, a maioria dos quais, por seu turno, constituída de organismos vivos. (Capra, 1982, p. 180).
O problema do crescimento ilimitado envolve diretamente questões políticas que se ligam à agricultura, à distribuição de renda, à produção de energia, aos nossos valores e aos nossos padrões de vida. As indústrias gastam boa parte de seu capital em publicidade, com o claro intuito de manter um padrão de vida baseado no consumo de seus produtos, muitas vezes supérfluos e outras vezes até mesmo perniciosos, o que de fato degrada a qualidade de vida humana e geral. O consumismo torna-se, então, um hábito cultural que deteriora o ar que respiramos, o alimento que comemos, o meio ambiente onde vivemos e as relações sociais que constituem a tessitura de nossas vidas (Capra, 1982, p. 206). A conseqüência natural dessa cultura do crescimento é a exaustão dos recursos naturais.
Necessário se faz, portanto, a efetivação de uma visão ecológica ativa e, para isso, podemos analisar dois pontos capitais para a manutenção da vida humana na atualidade: a produção de energia e a produção de alimentos. Há energia e alimento suficiente para 7 bilhões de almas encarnadas?
Rogério Ribeiro Cardoso
http://omnesomniaomnino.wordpress.com/2012/06/18/permacultura-e-sustentabilidade/
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