O modelo agrícola de muitos países, entre eles o Brasil, se baseia em extensas áreas de monoculturas (os latifúndios), o intensivo emprego de capital e o uso exagerado de máquinas colheitadeiras, de arado, de irrigação etc. que exigem, é claro, energia para funcionarem. Além disso, esse processo antinatural de cultivo necessita do uso de pesticidas, agrotóxicos e fertilizantes químicos (muitos de origem petroquímica). São métodos que destroem o equilíbrio orgânico, poluem o solo, lençóis freáticos e leitos de rio, além de envenenarem nossos alimentos.
Em seguida, os produtos de boa aparência são destinados à exportação, enquanto o restante vai para a indústria, onde são processados, embalados, transportados e distribuídos aos supermercados, sempre sob uma chuva de publicidade e propaganda. Os alimentos mais saudáveis (mas às vezes nem tanto) da feira livre, normalmente vêm da agricultura familiar, que não tem como concorrer em pé de igualdade com o agronegócio.
Na pecuária, o problema é o mesmo, senão pior. Nas últimas décadas, a produção de carne (bovina, aviária, suína etc.) aumentou percentualmente muito mais do que a população mundial (mas a fome no mundo não parece ter diminuído), configurando, hoje, num dos maiores problemas ambientais do planeta. Boa parte dos grãos produzidos pelos grandes agricultores, por exemplo, se destina à alimentação animal. Grande parte de água potável é utilizada na hidratação e (quando há) asseio animal.
A necessidade quase esquizofrênica de crescimento empurrou as fronteiras agropecuárias para regiões florestais, e o resultado não pôde ser outro: desmatamento e queimadas. O crescimento desordenado da agropecuária no Brasil foi uma das principais causas do desmatamento da Mata Atlântica, da Caatinga, do Cerrado e mesmo da Floresta Amazônica. Além disso, as queimadas respondem pela emissão de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera a cada ano.
A pecuária, seguindo o padrão de produção em massa das indústrias, acaba lançando mão do uso tecnológico nocivo, como a aplicação de hormônios nos animais, seja para a engorda ou “manutenção da saúde”; o encarceramento de aves para a produção de ovos; os métodos de abate etc. Os hormônios e outros medicamentos injetados nos animais, ou consumidos por eles, não são totalmente excretados pelo organismo do animal, mas parte dele vai parar no garfo do consumidor final, e o que é eliminado no meio ambiente, se infiltra nos aqüíferos subterrâneos e lençóis freáticos. Aliás, o animal não excreta apenas essas substâncias, mas todo o resto tóxico de seu metabolismo. E para onde vão esses excrementos? Vão para pequenos açudes sem tratamento, para rios, para o mar e outras fontes de recursos hídricos, causando graves e nocivos efeitos à biodiversidade. Não podemos nos esquecer ainda que os gases resultantes da digestão de grandes animais, como o gado, são contribuintes para o efeito estufa e a desintegração do ozônio atmosférico.
A produção de proteína animal é várias vezes mais dispendiosa que a produção de proteína vegetal. Mas talvez seja mais lucrativa (ou ainda é lucrativa porque os custos ambientais não se enquadram no custo de produção). Segundo relatório da Unesco para o Fórum Mundial da Água em 2004, a produção de um quilo de carne necessita de 15 mil litros de água; por outro lado, um quilo de cereal necessita de 1,3 mil litros de água. Não há dúvidas que nossos recursos de água doce correm risco de escassez.
Outro resultado da massiva propaganda pelo consumo exagerado de carne, é a deficiência da saúde das pessoas, acostumadas ao fast food, e desacostumadas a uma dieta balanceada, o que onera inevitavelmente o Estado. Veja que o problema central não é exatamente a ingestão da carne, mas a nossa cultura alimentícia que substitui todos os outros alimentos por ela, gerando uma demanda desnecessária por sua produção, e problemas de saúde perfeitamente evitáveis.
Estamos falando de abalos de ecossistemas, nos quais nos incluímos. Estamos falando de ameaças sérias à nossa saúde, ao nosso bem-estar e aos processos biológicos que mantém o equilíbrio natural do meio ambiente. Ao nos depararmos com a realidade dos riscos para a nossa existência, podemos questionar: como repor tudo o que retiramos dos recursos naturais dos quais dependemos? Como evitar as conseqüências funestas do crescimento econômico desenfreado? Uma opção é o incentivo político e econômico à agricultura familiar, e uma espécie de retorno da cidade ao campo, mas tal medida é totalmente conflitante com nossos atuais conceitos de eficiência, produtividade e lucro. Esses conceitos
são usados num contexto tão limitado que se tornaram inteiramente arbitrários. A eficiência de uma companhia é medida em termos de lucros, mas, como esses lucros estão sendo obtidos cada vez mais à custa do povo, temos que perguntar; “Eficientes para quem?” Quando os economistas falam em eficiência, referem-se à eficiência em nível individual, da companhia, social ou em nível do ecossistema? (Capra, 1982, p. 220).
Ao contrário do que muitos pensam, a agricultura latifundiária ou a pecuária em grande escala não geram emprego. Não no nível que se necessita. Por outro lado, a agricultura familiar gera muito mais atividade rentável. Aliás, a agricultura familiar é responsável pela maior parte do abastecimento interno nacional. O agronegócio se presta muito mais à exportação. Enquanto pessoas passam fome nas ruas, um dos produtos mais exportados do Brasil é a soja, riquíssima em proteínas que nos são necessárias, mas ela não se destinará à alimentação humana, e sim, animal!
E então, com a expansão do agronegócio, haverá terra suficiente para a agricultura e a pecuária industrial? Já salientava Fritjof Capra que no âmago do problema, como de costume, estão a miopia ecológica e a ganância empresarial (1982, p. 230).
Quando falamos em sustentabilidade, portanto, precisamos nos ater à reação em cadeia resultante dos impactos ambientais de nosso padrão de vida. Aliás, quando falamos em sustentabilidade, falamos de padrões de ciclo e padrões de rede, pontos esquecidos pelo marketing empresarial, pelos aproveitadores em campanhas políticas, pelos que se adornam com palavras da moda sem compreender-lhes o sentido basilar. Bem, e agora? Há alternativas para o tão sonhado e inexplorado desenvolvimento sustentável?
Sim, há alternativas, e uma delas é a Permacultura.
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