domingo, 13 de setembro de 2015






SOFRENDO NO LUGAR DE OUTREM


Sofrer no lugar de outrem é um tema comum nas constelações familiares. Tal sofrimento se manifesta como uma doença física ou como padrões perturbados do viver.
Quando a doença ocorre por emaranhamento com alguém que já a sofreu, ela necessariamente não precisa se manifestar como a mesma doença.
A pessoa emaranhada com o destino de alguém que morreu tragicamente, ilegalmente, ou que tenha sido esquecida, sente uma drenagem no organismo físico e isso leva ao desenvolvimento de doenças e enfermidades.
Quando se está identificado com alguém que já morreu, se está com “um pé na cova” por assim dizer, e não se está totalmente na vida física. Do ponto de vista energético, existem cabos de energia que se ligam - principalmente a partir do primeiro chakra - com a nossa família biológica e com os antepassados. Este centro de energia na base da coluna vertebral, representa a vontade de se viver no corpo físico e a capacidade de se estar vivo e presente na terra. Os cabos de relacionamento tem um impacto sobre o bem-estar físico, algo bastante demonstrado no processo de cura.
O primeiro chakra - diretamente relacionado com o aparato físico - quando está danificado ou drenado por meio de cordas de uma relação doentia com ancestrais (um pai ou avô), enfraquece a saúde geral do corpo físico e exerce impacto sobre o sistema imunológico. Isso pode levar ao desenvolvimento de vários tipos de câncer, AIDS e de outras doenças relacionadas com o sistema imunitário.
Ao se olhar para a doença, quase sempre é possível presumir que ela é, direta ou indiretamente, resultado de cabos danificados e de um possível emaranhamento no sistema familiar.
Os danos ao chacra básico são vistos como causados por trauma na primeira infância ou por trauma de nascimento, prejudicando a capacidade da criança de se conectar totalmente com o corpo e com o ambiente físico, ou a um ou os dois pais. Esse trauma pode levar o indivíduo a se retrair da vida, ser incapaz de efetuar uma ligação completa com o mundo físico ou com o corpo, sofrer desnutrição em termos do “chi”, que é a energia universal.
Outras vezes, fatos como a morte prematura de um dos pais, abandono ou divórcio também pode levar a danos no sistema de energia do chakra básico. No entanto, temos observado que o trauma pode até mesmo pertencer a uma outra pessoa do sistema familiar e os seus efeitos podem se manifestar no indivíduo como se ele fosse a pessoa que o tivesse experimentado em primeira mão, mesmo sem ter consciência deste problema. Cabos de relacionamento que se ligam a antepassados fazem parte de um trauma não-curado que drena o sistema físico da mesma forma que a experiência direta de um trauma. Um trauma experimentado diretamente pode criar um dreno em nosso corpo físico e saúde e o trauma vivido por um irmão, uma tia querida ou qualquer outro membro da família, pode manifestar-se em nós como se fosse nosso próprio.
O amplo espectro da cura aberto para além do indivíduo, incluindo a família dele, evidenciou que as pessoas não podem se curar como se fossem uma ilha mas que a cura é possível apenas quando eles são concebidas com partes de um sistema familiar.
Uma mulher que tinha por volta de trinta anos lutou muito tempo contra a anorexia e a bulimia. Ao investigar o sistema familiar por meio da constelação, a história da família da mãe veio à luz: vários parentes tinham morrido de fome na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial. Depois que a guerra acabou, nunca mais se falou desses parentes que, podemos dizer, foram esquecidos. Isto é, nunca se reconheceu o destino deles. Minha cliente estava profundamente envolvida com o destino dessas pessoas que morreram de fome e se sentia compelida a tomar o lugar delas.
Outra pessoa, apesar de possuir três filhos, após muitos anos lutando contra a doença que a acompanhou pela adolescência e juventude, estava sofrendo uma recaída de bulimia. Ela era um pouco mais do que pele-e-osso e isto era uma crise física que fez os médicos avisarem-na de possíveis complicações cardíacas e de outros órgãos vitais, por causa desse grau de desnutrição.
Ao investigar a história familiar dessa mulher, descobriu-se que o avô tinha sido um oficial nazista em Auschwitz, com pouco ou nenhum remorso pelas próprias ações. A guerra nunca tinha sido abordada na família e os detalhes das atividades do avô eram segredos de família há longa data.
A constelação dela colocou o avô e vários representantes no lugar das vítimas de Auschwitz. Ficou bem claro, desde o início, que a cliente queria estar ao lado das vítimas esqueléticas do Holocausto, mas que isso deveria se manter também como um segredo para a sua família. Mais tarde, a paciente revelou o profundo interesse pela cabala e por outras tradições judaicas e já tinha pensado em se converter ao judaísmo.
Neste caso, a pessoa não estava sofrendo em nome de um membro da família, mas em nome das vítimas do avô, esquecidas e negadas.
De vez em quanto, somos lembrados pelas constelações, de que nada é verdadeiramente esquecido ou excluído: outra pessoa simplesmente vai defender a causa, geralmente de forma inconsciente, compelida por um impulso interior, por mais irracional que ele possa parecer.
A alma é inclusiva de todas as coisas e aquilo que foi excluído ou negado será representado por uma compulsão da alma de ser incluída.
A constelação preenche a lacuna entre psicoterapia e trabalho da alma, no que é essencial, trabalhando com vivos e com os mortos.
Os clientes muitas vezes perguntam se as almas daqueles que já morreram também foram curadas com o trabalho. A resposta é: "Eu não sei, eu só me preocupo com os benefícios obtidos pelos vivos."
Certa vez, uma cliente que tinha feito alguns trabalhos envolvendo a avó falecida, contou que anualmente ia visitar um médium perto da data do aniversário, a fim de obter insights espirituais para o ano seguinte. Em uma dessas ocasiões, a avó tinha falado pelo médium que agradecia o trabalho de cura feito e que se sentia muito melhor. Nem o médium nem a cliente tinham discutido sobre constelação familiar.
Devemos acolher tais histórias pelo valor nominal delas sem adicionar conjecturas ou criar outras histórias para apoiá-las: simplesmente se aceita o que foi dito, sem tirar conclusões. Dessa maneira, protegemos a integridade da eficácia do trabalho de cura feito para o cliente e evitamos sensacionalismo de coisas que, em última instância, não podem ser provadas.
Uma outra história: Sarah era uma mulher de vinte e poucos anos que sofria de um choro incontrolável que começou na adolescência e tomou conta dela com o passar dos anos. Ela chorava tanto que era difícil fazer amigos, ter relações íntimas ou até mesmo permanecer em público. Já tinha feito muitos tipos diferentes de terapia sem entender a fonte das suas lágrimas constantemente fluindo.
Ao investigar a história familiar, Sarah disse ter, pelo lado da mãe, parte dos índios americanos mas que a mãe dela a tinha proibido de contar isso, temendo a filha ser discriminada naquele estado sulista dos EUA, onde residiam.
Ao relatar a história da família, Sarah contou que a bisavó índia puro-sangue, tinha mantido em segredo, por longo tempo, que tinha sido retirada à força pelas autoridades do estado da Geórgia, juntamente com o seu povo, para serem confinados em uma reserva. Essa migração forçada em massa de nativos americanos foi apropriadamente chamada “The Trail of Tears" ou, em Português, “O Caminho das Lágrimas”.
Depois que isso foi trabalhado, o choro compulsivo de Sarah foi cessando.


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