Um dos órgãos mais vulneráveis às emoções, a pele sinaliza quando
elas fogem ao controle.
É preciso equilibrar o que está nos bastidores dessa
trama
Segundo maior órgão do corpo, a pele é mais do que uma embalagem:
é um espelho do que acontece conosco. A naturalista americana Diane Ackerman diz
em seu livro Uma História Natural dos Sentidos (ed. Bertrand Brasil) o
quanto ela é importante: “A pele respira e produz secreções, protegendo-nos
contra os raios nocivos e os micróbios, isolando-nos do calor e do frio,
regulando o fluxo sanguíneo, atuando como moldura para nosso tato,
auxiliando-nos na atração sexual, definindo nossa individualidade”. Rica em
terminações nervosas e dotada de intensa rede de vasos sanguíneos, está tão
conectada ao cérebro que sofre os efeitos dos altos e baixos emocionais. Uma
equipe da PUC do Rio Grande do Sul achou evidências da sua conexão com o
emocional. Na pesquisa, de 2009, psicólogos avaliaram 205 pessoas entre 20 e 49
anos com problemas de pele: 63% haviam passado pouco antes por stress. “Perda de
uma pessoa querida, de emprego, brigas na família ou uma cirurgia podem
desencadear, por exemplo, a psoríase”, afirma o dermatologista Alan Menter, da
Universidade de Baylor, em Dallas, nos Estados
Unidos.
Ele estava à vontade para comentar: é o presidente do Conselho
Internacional de Psoríase, presente no Congresso da Sociedade Brasileira de
Dermatologia, que discutiu o tema no Rio de Janeiro há três meses. Mas nem
sempre basta recorrer a medicamentos. “Psicoterapia ou métodos que controlam o
stress, como acupuntura e ioga, podem ajudar a diminuir os sintomas e ainda
previnem novas crises”, afirma a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo.
Veja as principais doenças de pele que são agravadas pela ansiedade, tristeza,
angústia e outros sentimentos.
Vitiligo
Distúrbio em que ocorre perda de melanócitos, células que produzem
a melanina, pigmento que dá cor à pele. Surgem manchas lisas e
esbranquiçadas.
CAUSA Predisposição genética. O próprio sistema de defesa entra em
curto e produz anticorpos que destroem essas
células.
EMOÇÕES Fatores como a tristeza por perdas (morte ou separação)
podem desencadear ou piorar as manifestações da
doença.
TRATAMENTO Para estimular a pigmentação, laser e cre mes
(sensíveis à luz, com ação oposta à do protetor solar) combinados à radiação
ultravioleta, corticoides e transplante de pele.
NOVIDADES Imunomoduladores, como imiquimod, estão em estudo, mas
os resultados mais promissores vêm de um comprimido de Polypodium leucotomos,
planta da Costa Rica que em laboratório revelou propriedades antioxidantes e
anti-inflamatórias e a capacidade de equilibrar o sistema imunológico. Eficaz
também como protetor solar, ela estimulou a pigmentação na cabeça e no
pescoço.
Acne
Doença inflamatória em que as glândulas sebáceas produzem muito
óleo, a ponto de fechar os poros, facilitando o ataque de bactérias. Comparada à
acne típica da adolescência, a da mulher adulta provoca espinhas mais
inflamadas, doloridas e profundas, sobretudo no queixo, na região da mandíbula e
no pescoço.
CAUSAS Hereditariedade, mudança hormonal, calor, cosmético oleoso.
Comum entre nós, a acne afeta 56,4% da população.
EMOÇÕES O stress promove uma descarga de cortisol, que estimula a
síntese do hormônio masculino e faz a glândula sebácea trabalhar mais”, diz a
dermatologista Denise Steiner.
TRATAMENTO Conforme o grau, inclui esfoliante, antibiótico,
isotretinoína, anticoncepcional, luz pulsada, luz azul e laser
fracionado.
NOVIDADES As últimas pesquisas inocentam o chocolate e a comida
gordurosa e apontam outra culpada: a dieta rica em carboidratos e laticínios”,
diz Cláudia Maia, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Suspeita-se que a
doença esteja ligada a alterações metabólicas: em excesso, a insulina secretada
após o consumo de carboidratos talvez favoreça as espinhas. Por essa razão, a
metformina, indicada no controle de diabetes, começa a ser
testada.
Alopecia areata
Desordem que produz queda de cabelo súbita, deixando falhas em
áreas arredondadas do couro cabeludo.
CAUSA Tendência hereditária. É mais comum entre os 20 e os 50
anos, sendo que 70% dos doentes têm o primeiro episódio antes dos 25. Pode ser
passageira ou persistente.
EMOÇÕES Um trauma pode dar início à produção de anticorpos contra
o folículo piloso. O stress também é desencadeador.
TRATAMENTO Corticoides no local das falhas, além de xampus,
loções, minoxidil tópico ou oral, luz infravermelha ou ultravioleta e, em casos
mais resistentes, transplante capilar.
NOVIDADES Por ser doença autoimune (em que a defesa interna ataca
estruturas do próprio corpo), a imunoterapia tem sido recomendada nos casos
graves. Aplicações semanais de difenciprona estimulam o surgimento de novos
fios.
Psoríase
Inflamação crônica caracterizada por lesões avermelhadas
recobertas por escamas esbranquiçadas. Aparecem nos cotovelos, joelhos, no couro
cabeludo e nas unhas ou espalhadas pelo corpo. Às vezes ataca as articulações.
Dos cerca de 5 milhões de brasileiros atingidos pela psoríase, um quarto
enfrenta estágios de moderado a grave, com impacto na qualidade de vida. Segundo
o dermatologista Alan Menter, essas pessoas sentem-se discriminadas ou
rejeitadas pela aparência.
CAUSAS A genética tem papel importante. Irritações na pele e a
baixa umidade do ar podem ocasionar e complicar as crises, que se instalam
quando o ritmo de renovação da pele se acelera devido a alterações nas defesas
locais.
EMOÇÕES Pessoas tensas e perfeccionistas são mais sujeitas a
desenvolver a doença, desencadeada muitas vezes pelo
stress.
TRATAMENTO Evoluiu com o surgimento de agentes biológicos, que
controlam a resposta imunológica. Eles são indicados em casos graves ou quando
os remédios convencionais (metotrexato e ciclosporina) não surtem os efeitos
esperados. O mais novo, o ustekinumab, administrado a cada 12 dias por via
injetável, pode ser utilizado por longos períodos porque provoca menos náuseas e
danos ao fígado. Em casos mais leves, a simples exposição à luz s olar diminui o
ritmo de renovação das células da pele.
NOVIDADES Estudos sugerem que a psoríase ameaça o coração. “Quem a
desenvolve estaria mais propenso a sofrer de síndrome metabólica, que se
manifesta por aumento do colesterol e elevação da pressão arterial”, afirma
Cláudia Maia.
Dermatite atópica
Erupções e crostas na face, no couro cabeludo, nas mãos, nos pés,
nos braços e nas pernas provocadas por in flamação crônica. A coceira é tão
intensa que há risco de a pessoa se ferir e infectar as lesões. Mais comum em
portadores de asma e de rinite alérgica.
CAUSA Todos os estudos apontam para a genética. Banho quente e
atrito da toalha podem ressecar a pele e provocar
lesões.
EMOÇÕES O stress agrava o problema: surgem novas feridas e mais
coceira. A dermatite atinge mais de 3,5 milhões de
brasileiros.
TRATAMENTO Cremes ou pomadas à base de cor ticoides;
anti-histamínico oral contra coceira; antibióticos orais se houver infecção;
exposição à luz ultravioleta combinada com doses orais de psoraleno;
imunomoduladores de uso local.
NOVIDADES A descoberta de um fator imunológico, um desequilíbrio
das células de defesa presentes entre a pele e a epiderme, alterou a abordagem
da doença. Surgiram imunomoduladores, como pimecrolimus (em 2003) e o tacrolimus
(em 2005), que permitem melhor controle do quadro.
Dermatite seborreica
Inflamação da pele que produz vermelhidão, coceira e descamação
nas áreas de maior concentração de glândulas sebáceas no corpo: em torno do
nariz, nas sobrancelhas, atrás da orelha, na face e no peito. No couro cabeludo,
pode acarretar a incômoda caspa.
CAUSAS Não esclarecidas”, diz a dermatologista Jozian Quental,
autora de Sua Pele em Boa Forma (ed. Marco Zero). Além de maior produção
de óleo, suspeita-se do fungo Pityrosporum ovale. Clima seco e alterações
hormonais pioram os surtos.
EMOÇÕES Stress elevado deflagra os episódios. Essa dermatite
atinge 18% da população mundial, a maioria entre 18 e 45
anos.
TRATAMENTO Xampus à base de enxofre, piritionato de zinco e
cetoconazol, loções capilares com ácido salicílico, resorcina, ureia e
cetoconazol, com ou sem hidrocortisona, além de prescrição de anti-inflamatórios
e antifúngicos via oral.
NOVIDADES Laser de baixa frequência pode ser usado como
coadjuvante no tratamento para reduzir a coceira e a
descamação.
FONTE:
http://claudia.abril.com.br/materia/doencas-de-pele-de-fundo-emocional-4604/?p=/saude/prevencao-e-cura
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